Ship principal: Harry Potter e Draco Malfoy

Classificação: Livre

Gênero: Romance

Spoilers: Deathly Hallows (Ignora o Epílogo)

Status: Completa

Idioma: Português

Disclaimer: alguns personagens, lugares e citações pertencem a J.K Rowling, Scholastic Books, Bloomsbury Publishing, Editora Rocco ou Warner Bros. Entertainment. Essa fic não possui fins lucrativos.


Entrelinhas

por Robyn Sly

O ontem não é nosso para recuperar, mas o amanhã é nosso para ganhar ou perder

Harry estava sentado em sua cama, olhando através da janela do quarto, pensando em como era frustrante deixar as oportunidades passarem. Seus olhos verdes acompanhavam o movimento fraco do largo Grimmauld Place, enquanto sua cabeça fervilhava de pensamentos e lembranças. As coisas poderiam ter sido diferentes, pensou enquanto voltava a por a cabeça no travesseiro para conseguir dormir, e era quase sempre assim: dias exaustivos de trabalho e noites de insônia. Ele sabia do que sentia falta, só tinha receio de assumir. Ele imaginava que a vida pós batalha seria menos solitária, não que lhe faltassem amigos, ele sempre pôde contar com as amizades de escola e do trabalho. Mas era aquilo que Hermione e até mesmo Ginny falavam: você precisa de companhia, alguém para ser seu parceiro, você fica muito sozinho naquela casa.

Os motivos que o levaram ao término com Ginny não eram coisa de outro mundo, a situação durante a guerra e não saber se sobreviveriam, nutriram um sentimento de emergencialismo que ambos perceberam não fazer sentido quando as coisas voltaram ao normal. Era um romance colegial, que com a possibilidade da perda, fez com eles sentissem mais do que era pra ser sentido. Não tinha mais Ginny como amante, mas desenvolveram uma boa amizade.

Virou-se na cama de novo e ajeitou o travesseiro, que especialmente naquela noite, não parecia se encaixar debaixo de sua cabeça. E era aquilo: ele sempre perdia o sono quando sua mente divagava demais sobre as lembranças e as oportunidades perdidas. E seus pensamentos eram traiçoeiros, pois se lembravam da vez em que ele salvou Draco na Sala Precisa, essa era uma memória que sempre estava lá, viva. Ele lembrava do calor do Fogo Maldito, dos sentimentos de pavor e medo, lembrava de como Draco tremia e de como ele apertou tão forte o seu peito, que era quase difícil respirar. Aquela era uma lembrança que Harry jamais esqueceria, pois ela era uma mistura de medo e morte, que também surgia junto com a lembrança da pós-batalha, ele lembrava de que ao ver Draco sentado na mesa do Salão Principal, cansado e com o rosto coberto de fuligem, ele tentou agradecer… não com palavras, mas com um aceno de cabeça e um sorriso tímido. As palavras de agradecimento poderiam vir em outra ocasião, mas ele entendeu que aquele gesto era sincero e retribuiu, botando talvez ali, todas as diferenças de lado.

E lembrar que quando a ocasião chegou, fazia Harry tremer, e essa era outra lembrança memorável... pois Harry sabia como a presença de Draco estranhamente o desarmava, e ali, no corredor do Ministério, ao saber que seriam parceiros de trabalho, as coisas ficaram ainda mais estranhas. Porque quando Draco se aproximou, Harry ficou estático, engoliu em seco, e quando Draco estendeu a mão e o cumprimentou com um olhar penetrante e um sorriso firme, Harry ficou inseguro e não soube o que fazer, balbuciou sem jeito e estendeu a mão também, naquilo que foi um aperto firme seguido de um "vai ser interessante compartilhar minhas habilidades com um dos melhores Aurores deste departamento". E assim, aquele aperto de mão que não aconteceu ficou para trás. Essas e outras cenas passavam e repassavam na cabeça de Harry nas noites de insônia.

-X-

As longas noites de trabalho, viagens em missões, plantões e conversas descompromissadas alimentavam algo. E percebendo que algo deveria ser feito, Harry avaliou todos os riscos e vantagens de uma aproximação ainda maior, com aquele que era em sua opinião: um especialista em poções promissor e um colega de trabalho peculiar. Draco nunca demonstrava suas verdadeiras intenções quando elogiava Harry por uma missão bem sucedida, não revelava suas intenções por trás das piadas ambíguas ou por trás das encaradas que deixavam o moreno sem graça. Mas você também não, pensava.

E assim, durante dias e meses de convivência pessoal e profissional, Harry percebia que existiam coisas entre eles que eram muito em comum, e que durante uma missão onde ele ensinou Draco a como dirigir um automóvel e a viver como um trouxa, nasceu uma confiança que há tempos Harry não tinha por outra pessoa, e bastou uma noite de confissões em um quarto de hotel em que ambos trocaram antigos segredos, para Harry perceber como Draco era complexo o bastante, charmoso o bastante, e bom o bastante… para se tornar ao menos por um instante o amante do amante que outros não conseguiram ser.

"Nós éramos, meninos, Malfoy… inimigos."

"Por Merlin, Harry. Pro inferno tudo isso!"

"Okay, eu confesso que exagerei ao mandar Dobby e Kretcher espionarem você… Foi exagerado, mas necessário."

"Uau… você era neurótico… mas no fim estava meio certo… não julgo, você não é o primeiro cara a ficar obcecado por mim."

Riram juntos e Harry por um momento quase fraquejou ao observar Draco fechar os olhos e respirar pesadamente, seguido de um leve sorriso ébrio.

-x-

Quando a oportunidade surgiu, Harry não sabia explicar como aquilo tinha acontecido. Os dois estavam lá, na sacada da casa do ministro, suas camisas estavam amassadas, suas respirações aceleradas e seus lábios ainda tinham o gosto de Firewhisky. Seus olhos encaravam Draco.

"Eu acho melhor ir embora agora."

Disse Draco, evitando mostrar mais constrangimento do que aparentava ter.

"Não. Acho que essa é a melhor coisa que poderia ter acontecido hoje."

Harry sorriu e o puxou para mais próximo de novo, deu um leve beijo nos lábios de Draco e permaneceu abraçado com ele até a queima de fogos terminar. Aquilo era o que ele queria que acontecesse, era o sentimento que ele queria que Draco soubesse que existia, sem mais conversas e verdades nas entrelinhas. Aquilo era a consequência de olhares e gestos mantidos em segredos há tempos. Aquele seria um Ano Novo difícil de esquecer.

-x-

Então começou um relacionamento discreto, e para ambos era uma coisa boa. Não sabiam quanto tempo conseguiriam manter aquilo em segredo, mas era empolgante como tudo se desenrolava. As saídas às escondidas, os sorrisos cínicos e as histórias ditas para despistar os bisbilhoteiros, criavam uma energia que os faziam se sentir jovens, como se o tempo de desavenças em Hogwarts pudesse ser recuperado. Afinal eles tinham um antes, e passaram a ter um agora e um depois, mesmo nos momentos onde as coisas pareciam se desestabilizar, como na vez em que tudo não teria mais volta.

-x-

Harry estava sentado em sua cama, olhando através da janela do quarto, pensando em como era frustrante deixar as oportunidades passarem. Seus olhos verdes acompanhavam o movimento fraco do largo Grimmauld Place, enquanto sua cabeça fervilhava de pensamentos e lembranças. As coisas estão como deveriam ser, pensou enquanto voltava a por a cabeça no travesseiro para conseguir dormir, e era quase sempre assim: ele acordava com os barulhos do ronco de Draco, que acordava resmungando baixo, logo após levar uma rápida cotovelada. Harry sorria e o beijava no rosto, puxava Draco para mais perto, às vezes o abraçava, e aquilo bastava para voltar a dormir.


N/A: Essa semana (04/06/2020) a versão original dessa fanfic vai completar 10 anos. A versão original dela é de 2010 e faz parte do meu projeto pessoal de reescrever minhas fics antigas e republicá-las. A fic original fez parte de um projeto da seção Harry & Draco do extinto fórum 6 Vassouras. Ainda continua inspirada na música Relacionamento Discreto do Caetano Veloso. A reimaginação dessa fanfic me abriu portas para trabalhar outra fanfic (provavelmente uma longfic, inspirada nessa).

Fica o amor por essa ficzinha que é especial para mim. Espero que tenham curtido a leitura, sejam gentis e deixe seu comentário. 3