Parte 5: Nos Completando


A primeira coisa que Kaori sentiu ao acordar foi o cheiro de café-da-manhã. Indo até a cozinha, lá estavam Kiyone e Mihoshi preparando uma vasta refeição de desejum. As duas notaram a presença de sua hóspede.

"Ah. Bom dia, Kaori. Dormiu bem?" Perguntou Kiyone. Ela afirmou.

"Pode sentar. Acabei de voltar do mercado e preparei nossa primeira refeição nesta casa. Sirva-se à vontade." Mihoshi ofereceu uma cadeira para a menina loira se sentar.

Kaori comeu com muito gosto, como se não tivesse degustado uma boa refeição há dias. As duas companheiras ficaram contentes de como ela se alimentava bem.

"Ahhh. Mas que delícia de café. Nem na minha casa provei algo tão bom há tempos. A última vez foi antes de começarem as discussões pela minha falta de esforço, como minha...mãe definiu." Ela baixou a cabeça como que tivesse vergonha. Kiyone foi para perto dela.

"Querida. Não fique assim. Não temos ideia de o por quê da sua família ou amigos terem agido como agiram, mas com certeza você...não merecia isso. Nenhuma criança merece."

"Mas então...o que vou fazer? Eu não tenho pra onde ir, a não ser pras ruas ou um orfanato."

"Você não vai pra nenhum desses lugares, do que depender de nós." Mihoshi respondeu determinada.

"Não? Mas..."

"Sabe. Mihoshi e eu conversamos ontem de noite e...bem...Diz, Kaori. O que você pensa de nós?"

"De vocês? Tenho que confessar. Ainda que sejam um casal de mulheres, as acho bem legais e simpáticas. Devem se gostar muito pra quererem se casar."

"Verdade, Kaori. Nos gostamos desde que a família de Kiyone me acolheu quando era órfã. Crescemos juntas como verdadeiras irmãs, mas nosso amor foi bem do que isso e...as coisas aconteceram."

"Sério? Puxa vida. Depois disso tudo estão casadas. Imagino que um dia irão querer ter filhos, mas como não podem ter do modo convencional..."

"Justamente isso que discutimos ontem. Você gosta de nós, não?"

"Vou dizer, Mihoshi. Eu gosto de vocês, de como me trataram. Pareciam até...mães."

"Se é assim que pensa, o que acharia de, como direi..." Kiyone fez uma pausa meio nervosa, mas convicta na decisão. "te adotarmos?"

Na real, Kaori não esperava ouvir tal pergunta, principalmente de tudo que havia sofrido pelas mãos de pessoas que diziam gostar dela e a magoaram, o que a deixou um tanto duvidosa.

"Vocês...me querem? Eu não sei. Acho que são boas pessoas, mas tenho medo de que...se eu aceitar e me acolherem...bem, ser abandonada de novo."

"Prometemos que isso nunca vai acontecer. A gente vê que é uma boa menina e que só merece amor em sua vida, e amor é o que temos mais pra compartilhar. Queremos ter você em nossa família, se for o que você quer. E te juramos: se em algum momento tentarmos te abandonar ou te deixar de algum modo, nós também nos separaremos, pois não podemos merecer ficar juntas se machucarmos uma pessoa que tanto gostamos."

As palavras de Mihoshi tocaram e muito a menina loira. Até Kiyone se surpreendeu o quanto sua esposa, que mostrava-se um tanto avoada, era madura e convincente.

Kaori ficou quieta por instantes sem dizer nada e sem aviso algum, jogou-se nos braços da mulher de olhos azuis com toda emoção, ficando por um tempo desse jeito e parecendo não querer se afastar.

"Oh, mamãe. Mamãe." Ela murmurou enquanto abraçava Mihoshi. Kiyone veio pra junto e ofereceu seu carinho às duas.

"Minha fofura. Não tem que sentir-se mais sozinha e triste. De hoje em diante, conte que terá duas belas e bondosas mães ao seu lado. Bem vinda à família."

"Obrigada...mãe." E as três permaneceram abraçadas por um longo tempo, o qual queriam que durasse para sempre.


Um ano depois.

"Papai. Mamãe. Senhorita Kikyo. É tão bom recebê-los em casa." Kiyone recebeu alegremente o casal e a mãe adotiva de sua mulher.

"Viemos ver como nossos anjinhos estavam. Sei que estiveram em casa há poucos dias, porém..."

"Não precisa explicar nada, mãe. São bem vindos a qualquer hora. Mihoshi está lá na cozinha e Kaori deve estar voltando da escola."

Os convidados seguiram pela casa até a cozinha, onde a loira bronzeada lavava a louça bem contente, e mais feliz ficou com a visita de seus sogros e da mãe.

"Ah. É tão bom que tenham vindo. Sentem que vou fazer um chá. Tem biscoitos que fiz esta manhã. Podem se servir."

"Obrigada, meu bem." Agradeceu Kikyo, desfrutando da hospitalidade oferecida pela filha e nora.

Foi uma tarde agradável para toda a família, em meio a risos e histórias do dia-a-dia. Os pais de ambas as mulheres viam como as duas se saiam bem sozinhas, desde o trabalho até cuidar da filha adotiva, a qual se apegaram bastante.

"Kaori é uma boa garota, e muito feliz pelo que descrevem."

"Verdade, pai. Não sei como a ex-família dela podia dizer que ela não era boa na escola. Talvez pra eles, Kaori não fosse esforçada o bastante para seus parâmetros, mas pra nós ela é perfeita em tudo, e a amamos desse jeito."

"E falando na nossa princesinha..." Sayaka viu da cozinha Kaori entrando em casa. Ao ver as famílias das mães, foi correndo vê-los.

"Nossa netinha preciosa. Vem dar um abraço no vovô e nas suas vovós." Kikyo chamou com alegria. A jovem ficava contente com a presença de seus avós adotivos, e eles mesmos a viam como sua verdadeira neta.

"É tão bom ver você, coisinha linda. Lembra bastante sua mãe Mihoshi quando a levei para casa pra ser amiga de Kiyone. Elas foram maravilhosas em te adotar. Sabia que elas seriam perfeitas uma pra outra quando as juntei." Contou Hayate.

"Eu sei, vovô. Já ouvi essa história diversas vezes e nunca me canso. Na verdade, gosto de ouvir essa história antes de dormir." Kaori comentou sorridente.

"E a propósito, o que vai querer para seu aniversário, meu bem? Eu acho uma tremenda coincidência seu aniversário ser no mesmo dia nos da suas mães que também é o dia em que se conheceram e se casaram. Parece até o destino, não acham?"

As palavras de Kikyo tocaram em cheio a mente de cada um. Era com se tudo tivesse sido predestinado, ou apenas uma enorme coincidência.

"Pro meu aniversário? Apenas estar com minha família e minhas amigas Haru, Michi e Rei. Não sei se já contei, mas quando elas souberam o que as outras tinham feito, imediatamente romperam com elas e vieram me procurar. E-eu mal acreditei que elas tinham ficado do meu lado sem eu saber e terem preferido ficar comigo."

"Amigos tão leais a este ponto são poucos os que encontramos. Kiyone é prova viva disso. Quantas vezes ela me defendeu e protegeu-me daqueles esnobes que não davam respeito à ninguém?" Mihoshi abraçou a companheira de cabelo verde com todo afeto. A filha adotiva e os pais de ambas não duvidavam em nada de como elas se amavam.

"Querida, é hora de ir estudar. Se precisar de ajuda, pode nos chamar e depois podemos discutir sobre sua festa." Disse Mihoshi.

A jovem loira se despediu das mães e dos avós com um largo sorriso, indo para o quarto. Hayate, Sayaka e Kikyo ficaram uns minutos à mais e logo foram embora. Mihoshi e Kiyone se despediram deles na porta.

"A vida não é maravilhosa, Kiyone?"

"Tirou as palavras da minha boca, Mihoshi. Quando está com quem se ama, tudo na vida é um arco-íris."

"E que tal a gente ir lá pro quarto? Deitar um pouco mais cedo?" A loira de olhos azuis fitou com amor sua companheira de infância e foi com ela para o quarto, aproveitar mais daquela tarde.

"Eu te amo, Kiyone." "E eu também te amo, Mihoshi, pra toda vida." "O sentimento é mútuo."

FIM.


Por fim completei o conto. Claro que já deixei evidente de quem tirei a ideia da Kaori, especialmente pelas amigas que ficaram com ela.