Parte 1: Caridade Recompensada
"Hmmm. Vou pegar dois destes e cinco daqueles. Oh, sim. Kiyone disse pra pegar dos grandes." Mihoshi se decidia o que tinha de levar das compras da semana.
Eram poucas às vezes que Mihoshi ia fazer compras sozinha, devido a seu jeito 'bem diferente' como definia Kiyone, mas as duas estavam casadas há quase 6 meses e sua esposa sabia que tinha de deixá-la se virar de vez em quando, embora fosse o mais perto de casa que pudesse.
Mihoshi saiu do supermercado muito feliz, como sempre, porém se achava mais feliz por Kiyone confiar nela pras compras. Sabia que era algo de responsabilidade e queria provar a si que era uma boa esposa.
Já indo pra casa, Mihoshi sentiu alguém lhe puxando a blusa. Virou-se na hora, achando ser um ladrão, mas era apenas uma menina com um vestido meio rasgado e o rosto meio sujo e aparentando estar com fome. "Pobrezinha. Quer um bolinho?" Mihoshi abriu uma das sacolas e tirou de um pacote um bolinho, que passou para a menina.
"Obrigada, tia. Tô sem comer nada desde hoje cedo. Estou vendendo bilhetes de loteria porque meu pai não traz nada pra casa desde que perdeu o emprego. Ele só bebe e precisa eu resolver." Ela mostrou um bilhete guardado no bolso. "Tô a manhã toda tentando vender este último. Não pode comprar ele pra me ajudar, por favor?"
Mihoshi estava bem triste e queria ajudar, mas Kiyone lhe falou pra trazer o troco das compras para completar o aluguel. "Eu queria poder ajudar mas...espere um pouquinho." Mihoshi vasculhou sua bolsa e por sorte, achou uns trocados o bastante pro bilhete. Deu o dinheiro e guardou o bilhete. A menina sorriu afetuosamente e agradeceu, indo pra casa. Mihoshi seguiu pra sua também.
"Eu não acredito nisso." Kiyone comentou quase que aborrecida. "Eu não tinha dito..."
"E disse, mas não gastei o troco." Mihoshi já cortou, passando-lhe o dinheiro com orgulho. "Comprei com uns trocados que achei na bolsa." Kiyone melhorou um pouco o humor, mas ainda tinha curiosidade.
"Mas por que comprou isso? Você nunca se interessou nessas coisas."
"Eu vi uma menina pobre vendendo bilhetes e a coitadinha falou que estava a manhã inteira se esforçando pra vendê-lo. E sejamos francas, Kiyone: somos policias galácticas, combatemos o crime e fazemos cumprir a lei, mas de que serve isso se não podemos fazer uma pequena caridade a uma única pessoa, ainda mais a uma criança?"
Contra isso, Kiyone não tinha como argumentar com sua esposa. Viu que a intenção dela era boa e foi pra ajudar pessoas que as duas decidiram querer ser policiais. Seu rosto sério deu lugar a um semblante mais alegre e deu um beijo na bochecha de Mihoshi.
"Ah, docinho. Pode não ser a mais brilhante, mas tem um coração que não cabe no peito. Por isso que te amo." Mihoshi ficou um pouco ruborizada e retribuiu com um longo beijo nos lábios dela.
Kiyone voltou pra cozinha para fazer o almoço e Mihoshi foi pra sala passar o aspirador e tirar pó dos móveis. Após a limpeza, e que não resultou em nada quebrado ou caindo, que já não era tão mais surpresa nesses 6 meses, mostrando que a vida de casada lhe colocou um pouco nos eixos, a policial loira ligou a TV e começou a montar a tábua de roupa. No primeiro canal que via, parecia estar tendo um sorteio.
"E atenção a todos. Estamos pra fazer o sorteio da grande loteria anual, sendo que este ano o prêmio recorde está acumulado em 2 trilhões de ienes. Pra vocês, que tem os bilhetes da série azul, fiquem preparados." Mihoshi teve um estalo na cabeça e logo se virou pra cozinha.
"KIYONE. KIYONE." Kiyone respondeu na hora. "Mihoshi? O que aconteceu?"
"O Bilhete que comprei. Está aí?" Kiyone logo olhou pra mesa de jantar.
"Está aqui, sim." "E qual a série dele?" Ela pegou o bilhete.
"Série azul. Por que?" "Traz pra cá, depressa."
A policial de cabelo verde veio que quase voando. "O que foi, Mihoshi. Pra que...?" E Mihoshi apontou pra TV com um largo sorriso.
"Vai dar o sorteio do maior prêmio e o nosso bilhete é da série sorteada." Sua esposa não mostrava tanto entusiasmo.
"Olha, amor. Sem querer ser pessimista, mas esse tipo de sorteio é na prática um tiro no escuro. Não que não deveríamos arriscar, mas..."
Mihoshi logo a parou. "Mas ainda assim temos uma chance. Já pensou se ganhamos? E você não vive dizendo como eu dou sorte?"
Outra vez, a policial esverdeada não teve como contra-argumentar. Mihoshi já escapara de morrer inúmeras vezes em diversas missões de auto risco e sem citar as muitas vezes que prendeu um bandido ou fugitivo, embora quase sempre sem querer, mas aquela era uma situação diferente. Entretanto, ela não queria magoar sua mulher, sendo que a amava demais pra isso. Desse modo, pegou sua mão e a levou até o sofá, para assim verem o sorteio. Mihoshi era de uma forte alegria que Kiyone sentia.
"E atenção todos." Falou o apresentador. " Vamos ao sorteio." O globo de números girou e saiu a primeira bolinha. "Primeiro número: 7."
Kiyone e Mihoshi viram o bilhete. Mihoshi se entusiasmou. "Sete. Temos sete." "Calma aí, amor. Não se entusiasme demais. Não quero parecer desmancha prazer, mas..."
"Segundo número: 14."
"Quatorze. Acertamos de novo." "É, eu sei. Uma pequena coincidência." Kiyone tentava se controlar.
"Terceiro número: 21." Mihoshi olhou esperançosa.
"Vinte e um. Foram três até agora." Mesmo Kiyone não conseguia crer. "3 números até agora?"
"Quarto número: 28."
As duas não acreditavam. Já haviam acertado 4 números. Até Kiyone já fazia fé.
"Quinto número: 35."
"Cinco até agora, meu amor. Está vendo?" "Sim, estou, Mihoshi. Finalmente fomos abençoadas. Faça figa pra esse último." As duas se abraçavam nervosamente. O narrador tomou a palavra.
"E antes de anunciar o último número, já calculamos que apenas uma pessoa conseguirá ganhar o prêmio total. Então seguindo com o sorteio," O globo girou. Mihoshi e Kiyone estavam grudadas na tela. "o último número é...é..." Era a hora. As duas quase que gritavam. "...48."
Ambas ficaram chocadas por não ter sido seu número, que era 49. Kiyone abaixou a cabeça de decepção e Mihoshi despencou de joelhos, colocando as mãos no rosto. Kiyone viu como sua esposa estava abatida e se abaixou pra dar-lhe um abraço.
"Puxa, Kiyone. Mais um pouquinho só e poderíamos ter ganho. Snif, snif." A esposa lhe deu um sorriso franco.
"Ah, minha cabecinha de bolha. Não fica triste. Foi por pouco desta vez. Quem sabe na próxima. Não que decidamos começar a comprar bilhetes, porém mais pra frente até façamos outra..." E o apresentador da loteria voltou a falar.
"E atenção, telespectadores. Pedimos desculpas, mas houve um erro no último número." As duas olharam fixamente para a TV quando ouviram. "Na realidade o último número foi...49. E repetindo os números sorteados: 7, 14, 21, 28, 35 e 49."
Ouvindo tais palavras, as duas policiais fixaram o olhar no bilhete, confirmando cada número. Seus olhos eram tão grandes quanto pratos e gotas de suor estavam fixadas em suas cabeças. Tirando o olhar do bilhete, ambas se viram nervosamente.
"Nós ganhamos? " As duas perguntaram na mesma hora. "Nós ganhamos? NÓS GANHAMOS. VIVA. VIVA."
Era tanto euforia e alegria como nunca tinham sentido, excetuando a do dia em que se casaram.
"Kiyone. Finalmente a sorte bateu a nossa porta."
"Desta vez estou de acordo. Nossos problemas terminaram. Viva." Ambas ficaram de costas, enganchando seus braços, rindo e dançando.
"HAHAHAHAHAHAHAHA. NÓS ESTAMOS RICAS. NÓS ESTAMOS RICAS. NÓS ESTAMOS RICAS."
"Sabe o que quer dizer, Mihoshi?" "Claro que sei. Nunca mais vai faltar dinheiro pro aluguel." Kiyone deu um olhar meio torto.
"Na verdade, pensei um pouco mais alto. Por que não comprarmos uma casa?" Os olhos de Mihoshi brilharam.
"Uma casinha? Só pra nós? Ela pode ter piscina?"
"Claro, meu anjo. O que você quiser."
Mihoshi abraçou a companheira com todo amor. Kiyone de fato não imaginava que ela conseguiria um feito tão grande, e tudo por causa de um simples ato de caridade. Ela se orgulhava de ter casado com uma mulher tão generosa e de boa índole.
"Temos que comemorar. Que tal chamar Tenchi e a turma pra jantarmos esta noite? Podemos ir a um karaokê...e cantar a noite toda."
"A noite toda?" Kiyone confirmou com a cabeça. Mihoshi se aproximou e deu-lhe um terno e caloroso beijo, marcando o começo de uma vida para elas.
Continua...